Como você, proprietário de um restaurante se sentiria se seu estabelecimento não estivesse preparado para receber um cliente? A sensação de impotência e a certeza de que algo precisaria ser feito para que seu estabelecimento pudesse atender aos clientes com eficiência, com certeza lhe consumiriam algumas noites de sono. Infelizmente nem todos sentem esta mesma inquietação quando recebem a visita de um deficiente visual em seu restaurante. A falta de treinamento da equipe e cardápios em braille é uma realidade em mais de 98% dos restaurantes.
Em busca de mais respostas a GR foi em busca de empresas envolvidas diretamente nesta causa. Em conversa com Marcelo Reis da MR Publicidade, agência de publicidade focada em gastronomia e especializada na criação de cardápios em braille, pudemos conhecer um pouco mais sobre a produção destes cardápios.
GR – Marcelo, de que forma o cardápio em braille tem contribuído para um melhor acesso dos deficientes visuais?
Marcelo Reis – Temos contribuído imensamente, esclarecendo as dúvidas dos estabelecimentos e criando seus cardápios em braille. No começo das nossas criações uma grande rede de fast-food com mais de 1100 lojas nos consultou. Infelizmente não fechamos negócio, mas os conscientizamos e mais tarde todas as suas unidades já tinham o cardápio disponível.
GR – A questão é mais social, ou o cardápio em braille gera mais receita para os restaurantes?
Marcelo Reis – A questão infelizmente não chega a ser social pelo ponto de vista dos estabelecimentos, e sim, criam o cardápio com o objetivo de se legalizarem, antecipando-se a uma denúncia ou fiscalização. A frequência dos deficientes visuais nos estabelecimentos não é grande devido às dificuldades de acesso, mas tornam-se clientes fiéis quando bem tratados. Portanto, o aumento da receita não é significativo e o que vale mais é o lado social.
Incrivelmente ouvi donos e funcionários de estabelecimentos dizendo que não tem necessidade, menosprezando totalmente o deficiente visual. Normalmente são estabelecimentos que também não estão adaptados para receberem cadeirantes.
O que leva os restaurantes a terem o interesse em possuir um cardápio em braille?
Marcelo Reis – Conforme citado anteriormente, a maioria dos estabelecimentos faz a criação apenas para se adequar a lei. São poucos os clientes que nos procuram com o objetivo de atender aos deficientes pensando no lado social, ao invés da lei. É o caso do chef Henrique Fogaça, dono do Sal Gastronomia e um dos organizadores da feira gastronômica O Mercado. Durante as obras de seu mais novo estabelecimento, o Cão Véio (sociedade com Fernando Badaui (vocalista do CPM22) e Marcos Kichimoto (promoter)), passaram pela sua calçada dois deficientes (um deles visual) que lhe solicitou informações de quando iriam abrir e se iriam ter o cardápio em braille. Imediatamente ele me ligou e solicitou a criação. Espetacular !
GR – Com relação à composição gráfica do cardápio em braille, há alguma diferença com relação ao cardápio convencional?
Marcelo Reis – Sim. Criamos uma padronização para facilitar o deficiente visual. Todos os cardápios são no formato A4. É importante citar que as leis não tratam de quantidade mínima, mas que o mercado estabeleceu em 2 unidades por estabelecimento. Duas unidades pois o deficiente visual normalmente está acompanhado do que chamamos de “guia” e muitas vezes esse guia é um outro deficiente visual. Assim, ambos podem escolher juntamente, o que os facilita bastante e ao próprio garçom.
Alguns clientes ficam na dúvida em informar o preço no cardápio em braille devido às constantes atualizações. Nesses casos, explico que podem optar por informar ou não.
Se não informar, terão de deixar um garçom ou outro responsável junto ao deficiente para informar os valores, retirando o profissional do seu serviço habitual. Por outro lado, se colocarem e houver uma mudança, o valor ou item ali informado pode estar desatualizado.
Aconselhamos então que no começo da transcrição para o braille seja colocada uma frase, informando que o cardápio foi criado no mês X, ano Y e que os preços e itens ali informados podem ter sofrido alterações, e devem ser confirmados.
A maioria opta por colocar a frase. Outros já atualizam o cardápio por inteiro, aproveitando as alterações trimestrais ou semestrais dos itens.
GR – E quanto ao custo de investimento e tempo de produção?
Marcelo Reis – O prazo de criação e entrega é de no máximo sete dias. O custo está diretamente ligado a quantidade de cardápios a serem produzidas e ao tamanho do arquivo a ser transcrito.
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A GR constatou que a falta de cardápios especiais para pessoas com deficiência visual não é o único problema na hora de ir a um restaurante. Segundo Regina, que trabalha como coordenadora de Revisão da Fundação Dorina Nowill para Cegos e como coordenadora Geral do Conselho Ibero-Americano do Braille, “A maioria dos funcionários não está preparada para atender pessoas com deficiência visual. É muito comum encontrar garçons que se dirigem a nossos acompanhantes para saber o que desejamos comer ou beber. Outros, colocam pratos e copos à nossa frente sem nos informar disso, o que, muitas vezes, provoca situações constrangedoras. Esses são apenas alguns exemplos do despreparo do pessoal que trabalha nesses estabelecimentos”, desabafa.
A Fundação Dorina é uma organização especializada no ensino do método braille para deficientes visuais e na qualificação de empresas que desejam adaptar-se.
Colaboração:
Produção de Cardápios em Braille MR Publicidade Site: www.facebook.com/publicidademr Telefone: 11 7736-0850 ID 55*11*10366 e-mail: [email protected] |
Cursos para Deficientes Visuais e qualificação de Empresas Fundação Dorina |