O que já era complicado para o empreendedor ficou pior. Mas é possível chegar ao valor correto com muita dedicação
10% foi o reajuste aplicado por Marcelo Alcântara e seus sócios no cardápio do restaurante Serafina
Marcelo Alcântara tem uma rede de restaurantes em São Paulo e dias atrás sentou-se com os sócios para discutir mudanças nos valores do cardápio. Reunião difícil por tocar no ponto sensível do Serafina – o negócio vende ao consumidor a união de marca, localização badalada e preço acessível para faturar R$ 15 milhões só ano passado. “Meu último reajuste tinha sido em abril de 2012. Tive de fazer outro agora pelo impacto que sofremos com o aumento das carnes, peixes e camarões.”
Alcântara elevou, em média, 10% os valores dos pratos. A alteração é considerada mínima, afinal, ele tem absorvido parte da alta dos insumos e adotado alternativas criativas para minimizar os impactos na conta do freguês. “O preço é um negócio sério. O que não pode é ter alterações sensíveis no cardápio”, ensina Alcântara. Estratégias à parte, o desafio enfrentado pelo Serafina replica-se pelo País e empreendedores buscam meios de driblar a alta de preços.
A inflação assusta o brasileiro – seja ele empresário ou consumidor – por ser a responsável direta pelos anos de recessão do Brasil, sobretudo na década de 80. Por isso, não é estranha a dimensão que o tema ganha quando há qualquer sombra de instabilidade, como esta que levou o mercado a reajustar em 122% o preço do tomate.
Sob o olhar atento de uma população que sente no bolso as variações da economia, empresários de todos os setores têm hoje um grande desafio: formar preços justos. Para eles e para seus clientes. A tarefa fica ainda mais delicada para quem administra pequenos negócios. Sem uma grande estrutura à disposição, capaz de favorecer a produção em escala e o enxugamento de custos, os empreendedores precisam seguir um planejamento cuidadoso para não comprometerem o caixa da empresa.
“Sabe como a política de preços funciona na prática?”, questiona Claudio Felisoni de Angelo, presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo (Provar/Ibevar), para responder em seguida. “Se eu sou empresário e não tenho muita certeza se a inflação vai ser de 6,5% ou de 6,59%, talvez seja melhor fazer a remarcação de 7% ou de 8%. Isso acontece hoje.”
Mesmo assim, Celso Grisi, professor da Fipecafi, bate na questão da gestão para fugir desse ciclo de remarcações para cima e para baixo. Para o especialista, é comum o dono de uma empresa pequena usar o dia a dia como base para determinar se vai fazer uma compra maior ou liquidar tudo. A administração de forma empírica, garante Grisi, gera um efeito dominó que chega ao preço final. “Apostar em uma data com potencial de vendas e não obter um bom resultado é o mais comum. Com estoque encalhado, a primeira ideia que surge é fazer uma promoção, onde o lucro é perdido”, afirma o professor.
Para Luiz Arnaldo Biagio, professor da Business School São Paulo, a dificuldade em determinar o preço é mesmo provocada, principalmente, pela falta de organização e de visão a longo prazo do empreendedor. “A grande fase de uma empresa é o desenho do plano de negócios. Quando bem detalhado, você pode confiar nele também para precificar ou fazer uma ação que não vai gerar problema de liquidez mais tarde”, analisa.
Mirar na fórmula da concorrência também não resolve a questão. Mas é importante estar alinhado com o mercado, explica Adriano Gomes, professor de estratégia da ESPM. Para o especialista, o que serve para uma empresa pode não ser bom para outra. Simples assim. “Tem que ser levada em consideração as atribuições de valor que o próprio consumidor determina. A marca leva ao produto ou serviço algo intangível”, explica.
Além de contemplar os custos de produção e os operacionais, ao formar o preço, o empresário pode definir uma margem de ganhos próprios irreal. É neste quesito que muitos derrapam. “A ambição humana complica. Existe uma tentação à margens de lucro maiores”, conclui Grisi.
Fonte: http://pme.estadao.com.br