Restaurantes que mantém seus banheiros bem cuidados garantem agrados de clientes que se preocupam com a limpeza do local
por Marcelo Jucá
Por muito tempo, o banheiro nos restaurantes foi considerado, de uma maneira geral, como uma coisa secundária, que existia somente pela questão da necessidade dos clientes. Hoje, no entanto, essa visão mudou. Além da higiene – uma decência mínima – outras questões são abordadas, como o uso da tecnologia, o conforto e a decoração.
Fátima Barnabé, arquiteta especializada da Deca, confirma que de uns 5 ou 6 anos pra cá, a preocupação aumentou muito porque “ter um banheiro em ordem valoriza o espaço. É uma preocupação com o conforto e higiene”.
Os novos empreendimentos gastronômicos baseiam a estrutura do seu banheiro como uma extensão da casa, voltando sua decoração de acordo com o ideal dos outros ambientes.
A tendência atual, explica Fátima, é de conseguir deixar o ambiente tão agradável quanto ao da casa do cliente.
A preocupação com o banheiro
Se um novo restaurante decidir montar seu banheiro com azulejos brancos e nada mais, contanto que esteja limpo, tudo bem. Mas tem lugar que decidiu investir na decoração e contou com a ajuda de designers para a elaboração de ambientes originais.
Um desses casos é do banheiro do Boa Bistrô, que teve a decoração do Studio Manus. As proprietárias Graziela Calfat e Ivana Morretin explicam o conceito da casa. “Queríamos fazer um lugar super agradável, cheiroso e relaxante com vista para o jardim, e, sobretudo, divertido, onde as pessoas pudessem interagir escrevendo coisas nas paredes com giz colorido e deixando o seu marco (como em banheiros públicos de escola, etc.) e ao mesmo tempo se entreter e se inspirar com as frases alheias. Enfim um lugar transformador, onde a pessoa entra de um jeito e sai com um estado de espírito melhor”.
Fátima Barnabé lembra que “agora o banheiro agrega outros valores”. Ou seja, que se deve dar importância a alguns detalhes, tais como a questão da iluminação do local. “Mulher vai ao banheiro para retocar a maquiagem, então a luz tem que estar adequada, pois senão ela fica retocando e retocando, e acaba saindo de lá com uma maquiagem muito forte”.
Fátima ainda destaca que a tendência dos banheiros é de ter uma louça mais clara, “geralmente branca”, e em alguns casos, “se faz uma brincadeira com o branco e preto”. O uso de cores claras também ajuda na questão da higiene, o tópico mais importante.
Sandra Santorsula, gerente de marketing do restaurante Chácara Santa Cecília, confirma que “Além de condições de higiene perfeita, o banheiro de um restaurante deve estar em localização adequada e de fácil acesso para todos os tipos de clientes, inclusive deficientes. A placa de identificação deve ser legível e a decoração do ambiente integrada com a comunicação visual dos outros espaços do restaurante. Além, obviamente, do número de banheiros estar adequado ao tamanho da casa”.
Localização e Acessibilidade
Em diversos restaurantes, é comum a cozinha e o banheiro dividirem uma mesma parede, ou em outro caso, serem próximos. A arquiteta Fátima Barnabé explica que isso ocorre por uma simples questão de “conveniência técnica”, pela questão dos encanamentos, “pela área hidráulica, a passagem dos canos”, completa.
As áreas, em muitos casos, acabam sendo próximas, no entanto uma não compromete a outra. “Quem vai ao banheiro gosta de privacidade, então é melhor que seja num canto. As áreas podem ser totalmente independentes, apesar de próximas”, diz Fátima.
Nesses casos de proximidade, o odor é um dos principais pontos a serem tratados. Muitas casas usam gelo, ventilação artificial, sprays de odor e etc, mas o ideal, segundo Fátima, é manter um funcionário responsável
de plantão. “Isso é muito importante, pois deixar alguém limpar só uma vez ao dia, não tem jeito, vai ficar muito sujo ao final do dia”.
Outra questão a ser tratada é o fácil acesso para deficientes. Por mais que o tema esteja em pauta, Fátima não vê muito avanço nesse assunto, afirmando que a adaptação sempre fica pela metade. “O espaço é tão apertado
(para o cadeirante) que a pessoa entra de frente e tem que sair de ré”.
Por outro lado, a preocupação do arquiteto da Chácara Santa Cecília, José Renato Nogueira Vessoni, foi de preservar a maioria das árvores existentes no terreno.
“Na planta original, o banheiro principal estava projetado em um espaço onde teríamos que sacrificar uma árvore de aproximadamente 30 anos. Fiel ao conceito da casa, José Renato, não só adequou o projeto, como ainda, criou uma parede de vidro, de onde é possível se apreciar a árvore que continua em seu lugar original”, explica a gerente de marketing Sandra.
Um toque de imaginação
Dois banheiros curiosos de se conhecer são os da Pizzaria Ditha Maria e do Cigana Bar.
Na Ditha, a situação pode ser tida como engraçada. Depois daquele pedaço de pizza, bate a vontade de ir ao banheiro. O que o cliente vai encontrar lá é um varal com peças íntimas penduradas. Calma. Não é de qualquer um, ou de um cliente atrasado.
A proprietária da casa, Izabel Barata, explica a razão da decoração. “Antigamente algumas pessoas lavavam suas roupas intimas e penduravam no banheiro para secar. Quando escolhemos as peças, procuramos de pessoas mais idosas e bem surradas, porém muito limpas, dando a sensação de estarmos no sitio da vovó”.
Segundo Izabel, a reação do público é positiva. “Adoram e acham muito interessantes. No banheiro dos homens a reposição das peças é constante”.
Já no Cigana Bar, o conceito vai para outro lado, mas não menos curioso. A artista plástica e uma das sócias da casa, Raquel Gomes, conta que a original decoração da casa surgiu “Após uma grande pesquisa sobre os ciganos, houve uma enorme vontade de fazer u
ma releitura sobre este povo festivo, nômade, fiel à seus valores e crenças e guardião da liberdade. A decoração foi realizada dentro destes princípios, lembrando que por onde os ciganos passavam com suas caravanas, deixavam seus ‘rastros’ jogando flores e fragrâncias florais produzidas por eles”.
Raquel, que também foi a responsável pelo projeto do banheiro, afirma que “Os clientes adoram os banheiros, sempre recebemos elogios. Gostam das cores, dos desenhos e dos tachos de cobre transformados em cuba, utilizados tanto pelos homens como pelas mulheres”.